No teatro político das tesouras, a população sempre será tratada como papel

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Atribui-se a Lênin a expressão "estratégia das tesouras", que nada mais é do que haver dois partidos de mesma matiz ideológica disputando determinado posto político. A diferença é que um deles se mostra mais moderado ou comedido na sua postura, enquanto o outro se mostra mais radical ou extremista, entretanto os dois funcionam como lâminas de uma mesma tesoura, a qual, nos arroubos da mentalidade de esquerda de Lênin, deveriam possuir o mesmo objetivo: "cortar" a liberdade do povo.

É curioso como esse cenário tem se mantido no Brasil ao longo das décadas. Em eleições para presidência, governo de estado e prefeitura, isso tem se mostrado bem comum, onde é possível vermos representantes da ideologia que agiganta o Estado e diminui o indivíduo disputando o cargo máximo do município em que o que acaba diferindo um do outro é apenas a intensidade de suas crenças, embora no final do dia ambos durmam com o mesmo sentimento político: serenidade por atrasar o desenvolvimento econômico da região.

A disputa entre esses dois atores pode até ser recheada de acusações, xingamentos e incriminações de um polo ao outro, mas, passada a eleição, eles retornam ao denominador comum que os une, que é a ideologia. Para esses atores, não importa quem ganha, contanto que seja o representante da mesma ideologia. Pois o que interessa no fim não é simplesmente ganhar a eleição, e sim manter a população refém do populismo, assistencialismo e paternalismo tacanho que a mentalidade estatista exige.

Como nas últimas décadas houve um predomínio de partidos de esquerda no cenário brasileiro, dissociando-se uns dos outros apenas pela pujança das pautas defendidas no seu espectro político, mas que sempre acabam tendo o mesmo denominador, tornou-se natural para a população conviver com rostos, que julgamos, diferentes, mas que no fim pertencem a uma mesma moeda ideológica.

Por isso, é tão comum que os postulantes às eleições geralmente possuam como plataforma de campanha coisas bem parecidas, do tipo: saúde para todos, educação para todos, aumento do salário-mínimo para todos etc., que acabam sendo o que ideologias como o socialismo, por exemplo, possuem como fundamento básico de sociedade – o igualitarismo a qualquer custo. Os tais pouco se importam se o remédio cause mais estrago que a doença, contanto que a população esteja satisfeita a curto prazo.

Dificilmente, vê-se candidatos que pautam seus projetos de governo com base em valorizar primeiramente a liberdade do indivíduo, em vez do coletivo. Propostas que estipulem menos intromissão do Estado no mercado, flexibilização nas relações de trabalho, distribuição de vouchers educacionais e da saúde para escolha do próprio cidadão de baixa renda acerca de onde se dirigir para matricular os filhos ou realizar consultas e exames médicos etc., são descartadas da plataforma de campanha.

Quando esses atores seguem a mesma ideologia totalitária e distópica, a alternativa não é votar no menos pior, pois ideologias que privam a liberdade de escolha das pessoas e, consequentemente, o crescimento econômico de sua região não produzem candidatos menos ruins, pelo contrário, perpetuam-se péssimos candidatos disfarçados de bons mocinhos (lobos em pele de ovelha).

Pode ser paradoxal dizer isso, mas a alternativa acaba sendo não votar em nenhum dos dois, pois só assim mostra-se que não se endossa a estratégia das tesouras. Apesar de, inevitavelmente, um ou outro chegar ao cargo pretendido, e perpetuar sua ideologia nefasta aos eleitores que o elegeram e à população, não votar em nenhum é demonstrar que não se compactua com totalitaristas, sejam eles radicais ou aparentemente moderados.