Negue o quanto quiser, mas o bolsolulismo é real e patético

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | A pouco mais de um ano para as eleições, grupos de pesquisa de votos já dão a tônica de como será a disputa. Por enquanto dois nomes encabeçam as pesquisas: Lula e Bolsonaro. Os demais partícipes acabam se tornando meros coadjuvantes de uma corrida eleitoral que dá mostras de que o populismo ainda é bem aceito pela população.

De um lado, temos um ex-presidente que atuou nos bastidores, e como interlocutor, daquele que foi considerado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos o maior esquema de corrupção do mundo, tendo como peças principais as maiores empreiteiras brasileiras e mais da metade de toda a classe política, servidores públicos, lobistas, "laranjas" e outros peixes pequenos.

Em que se pese Lula ter sido condenado e sentenciado à prisão, cumprindo apenas míseros um ano de reclusão, enfim as manobras jurídicas e acordos políticos se mostraram exitosos ao conseguir anular vários processos que o ex-presidente respondia, utilizando como justificativa máxima e pueril a suposta parcialidade do juiz que o condenou (Sérgio Moro). 

Do outro lado, temos um atual presidente envolvido em esquemas de corrupção, "rachadinhas" especificamente, blindando seus familiares de quaisquer processos, interferindo em departamentos de investigação, descumprindo promessas de campanha (tudo bem, isso aqui não é lá muita novidade no cenário político) e torrando dinheiro público com mídias repletas de lambe-botas e que passam pano para o governo.

Lula, enquanto líder de um dos maiores partidos de esquerda do Brasil, fez carreira como interlocutor da classe trabalhadora perante empresários, mas só até se tornar político de fato. O populismo deu lugar ao clientelismo. O discurso aparentemente radical se transformou em pura demagogia. Tudo vale para se conquistar o poder, até mesmo se tornar aquilo que um dia tanto se criticou ou demonizou.

O Lula dos pobres se transformara no Lula dos empresários. O Lula que reivindicava melhores condições de trabalho para os sindicalizados passou, então, a reivindicar mais troca de favores daqueles que eram antes adversários de campanha, até culminar em pedidos de dinheiro por caixa dois ou mesada para seu seleto grupo de correligionários.

Com Bolsonaro, algo semelhante aconteceu. Ele já estava no cenário político há mais de vinte anos. Poucos projetos de impacto realizou enquanto deputado. Muitos desses eram apenas destinados à classe de militares, da qual ele mesmo se licenciou para concorrer a cargos políticos.

Bolsonaro prometeu mundos e fundos quando em campanha presidencial. Sinalizou virtudes com os mais variados setores. Disse ser conservador, tradicionalmente religioso e ouvinte das massas, mas não atendente delas em absoluto. Fez acordo com várias lideranças de outros partidos, à medida que dizia que não se venderia ou trocaria favores por meio de manobras políticas. Lá se vão quase três anos de governo, e as promessas ficaram no vazio.

Bolsonaro mostrou de fato quem é e no que acredita: um egocêntrico narcisista que sofre do mesmo mal edênico de nunca reconhecer suas responsabilidades e culpas, mas que culpabiliza a qualquer um pelo que não dá certo em seu governo. Nada muito novo do que há no cenário eleitoral, mas a decepção de muitos setores foi que essa constatação veio sem nenhum negacionismo, pelo contrário, apareceu com um forte orgulho nacionalista que ultrapassa a racionalidade e o bom senso.

Lula e Bolsonaro podem ter pertencido a grupos politicos antagônicos, mas suas formas de governar não são diferentes. O populismo é o que orienta suas visões políticas. Buscam o poder a qualquer custo, corrompendo a si e ao maior número de pessoas possível, à medida que distribuem migalhas ao povo. E quando o caldo está perto de entornar para seus lados, vitimizam-se, culpam instituições, países, veículos de informação ou pessoas mesmo, enquanto utilizam a máquina pública para injetar dinheiro na mão dos mais pobres e tentar trazê-los para o lado deles.

Lula e Bolsonaro não são agentes de uma mudança positiva para o país. Caso um seja eleito, atesta-se a incompetência de todo um país na luta contra a corrupção. Ineficiência da lei, incompetência dos magistrados, dos tribunais, dos poderes, dos eleitores, dos formadores de opinião. Caso o outro seja eleito, atesta-se a incapacidade de senso crítico de toda uma classe política. Incapacidade de reconhecer limites de atuação do Estado, de redigir boas propostas, de julgar decisões por seus resultados e não por boas intenções.

O bolsolulismo é um jogo de soma zero, onde os perdedores têm seus bolsos assaltados por fundões eleitorais, presenciam corruptos no poder tendo boas relações com magistrados e ministros, testemunham leis sendo criadas para proteger criminosos, principalmente criminosos políticos.

Militantes bolsonaristas e lulistas têm muito em comum e insistem em tentar se desvencilhar um do outro. Ambos idolatram seus totens políticos; ambos são agentes de desinformação; ambos são negacionistas em assuntos variados; ambos acreditam num messias político; ambos pensam de forma obtusa; ambos agem com radicalismo e irracionalidade ao defender seu líder messiânico. 

Nas eleições do ano que vem, parafraseando as eleições presidenciais anteriores, é certo inferir que Bolsonaro é Lula e que Lula é Bolsonaro. Os debates serão meras encenações de falsários que souberam muito bem como usar o Estado em benefício próprio e o populacho como defensores de suas imagens.